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Cruzar o rio…

Conta uma antiga história que um mestre tinha como dever a formação de dois jovens discípulos. Ambos eram bons aprendizes. O mestre procurava ensinar-lhes, principalmente, o desapego. Para a filosofia, os apegos são a principal fonte de sofrimento.


Um dia o mestre pediu aos discípulos que o acompanhassem para levar alimentos numa aldeia próxima, que era muito pobre. Quando chegaram ao lugar, repartiram o alimento com humildade e atitude. Eles se alegravam em poder ajudar os demais.


Quando chegava o momento de voltar, o mestre lhes pediu que dessem um passeio por um bosque próximo do monastério. Era cedo e eles poderiam contemplar a beleza das flores, do céu e dos animais. Além disso, o rio estava muito próximo. Os três caminharam em completo silêncio por um longo tempo. Logo, chegaram ao rio. Nunca imaginaram o que veriam ali: uma linda mulher que lhes sorria.


Os dois jovens monges ficaram surpresos com a beleza daquela estranha mulher. Ela era a mais bela que ambos haviam visto. Eles ficaram muito nervosos e começaram a caminhar até a jovem. Ambos tropeçavam. Esqueceram completamente o que estavam fazendo e só tinham olhos para ela.


A mulher sorriu de forma provocante ao ver seu constrangimento. Logo, com uma voz sedutora, lhes pediu um favor: que a ajudassem a atravessar o rio. Um dos jovens se apressou em ajudá-la. A pegou no colo enquanto ela o olhava de forma insinuante. O jovem monge sorria. Então deixou a mulher à margem do rio e voltou para se reunir com o mestre e seu companheiro, a quem havia deixado para trás. O mestre olhou profundamente para o jovem e, então, todos prosseguiram o caminho.
Passaram-se dias e o monge continuava em expectativa, logo um de seus discípulos dissera:
“Como é possível que o senhor não tenha dito nada a ele, que nos deixou plantados à margem do rio enquanto atravessava de forma provocante uma desconhecida? O senhor não vai dizer nada a ele? Por que não reprova seu egoísmo e sua falta de consideração? Por que não o recrimina por ter cedido à luxúria?”, ele disse repleto de raiva.


O mestre o olhou em silêncio por um longo tempo. Então, disse uma frase: “Seu companheiro pegou a mulher nos braços, a ajudou a cruzar o rio e a deixou lá. Em contrapartida, você não conseguiu se desprender dele, nem dela, nem do rio, até agora.”

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